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A evolução do salário mínimo em Portugal e o impacto na economia

O salário mínimo é um dos temas mais debatidos na economia portuguesa — e com razão. Representa não só o rendimento base de milhares de trabalhadores, mas também um termómetro do poder de compra, da produtividade e da competitividade económica do país. Nos últimos anos, Portugal tem assistido a aumentos consecutivos do salário mínimo nacional, acompanhados por intensas discussões sobre os seus efeitos: será um impulso para a economia ou um desafio para as empresas? Neste artigo, analisamos a evolução do salário mínimo em Portugal, o seu contexto histórico e os impactos reais que tem na economia e no quotidiano das famílias.

DICAS

10/8/2025

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A evolução do salário mínimo em Portugal

O salário mínimo nacional (SMN) foi criado em 1974, logo após a Revolução dos Cravos, com o objetivo de garantir uma remuneração mínima justa para todos os trabalhadores.

Na altura, o valor inicial era de 3.300 escudos (cerca de 16,50€), e aplicava-se apenas a trabalhadores com mais de 18 anos. Desde então, o SMN tem vindo a aumentar quase todos os anos, com ritmos diferentes consoante os governos e a conjuntura económica.

Evolução recente (2015–2025):

Nos últimos 10 anos, o salário mínimo português teve uma das subidas mais consistentes da União Europeia:

*Ano - Salário Mínimo (€) - Aumento Anual (€)

  • 2015 - 505 €

  • 2016 - 530 € (+25 €)

  • 2017 - 557 € (+27 €)

  • 2018 - 580 € (+23 €)

  • 2019 - 600 € (+20 €)

  • 2020 - 635 € (+35 €)

  • 2021 - 665 € (+30 €)

  • 2022 - 705 € (+40 €)

  • 2023 - 760 € (+55 €)

  • 2024 - 820 € (+60 €)

  • 2025 - 870 € (+80 €)

💬 Em 10 anos, o salário mínimo cresceu cerca de 78%, um aumento significativo face à média europeia.

O que explica o aumento do salário mínimo

Vários fatores explicam o crescimento do salário mínimo em Portugal:

  1. Política de redistribuição de rendimento: o aumento do SMN é uma ferramenta social para reduzir desigualdades e combater a pobreza laboral.

  2. Inflação e custo de vida: nos últimos anos, o aumento dos preços dos bens essenciais tornou imperativo garantir maior poder de compra às famílias.

  3. Acordos tripartidos: muitos aumentos resultaram de negociações entre Governo, sindicatos e associações empresariais.

  4. Atração e retenção de trabalhadores: num mercado de trabalho competitivo, salários mais baixos tornam difícil reter talento, sobretudo entre os jovens.

Impactos positivos na economia

O aumento do salário mínimo gera efeitos multiplicadores na economia, especialmente nos setores de consumo e serviços.

1. Maior poder de compra

Com mais rendimento disponível, os trabalhadores de baixos salários tendem a consumir mais, o que estimula o comércio e a economia local.

2. Redução da pobreza e exclusão social

Salários mais altos ajudam a garantir melhores condições de vida e reduzem a dependência de apoios sociais.

3. Aumento da produtividade e motivação

Melhores condições salariais podem traduzir-se em trabalhadores mais motivados, com menor rotatividade e mais compromisso com as empresas.

4. Estímulo à formalização do trabalho

Um salário mínimo mais elevado e fiscalmente equilibrado reduz o incentivo ao trabalho informal, fortalecendo a economia legal.

Os desafios e efeitos colaterais

Apesar dos benefícios, os aumentos do salário mínimo trazem desafios importantes, sobretudo para as pequenas e médias empresas (PME):

1. Pressão nos custos das empresas

Muitos negócios, especialmente em setores como restauração, agricultura e comércio, têm margens de lucro reduzidas. Um aumento rápido pode gerar dificuldades de sustentabilidade.

2. Compressão salarial

Quando o salário mínimo sobe, as diferenças entre níveis salariais diminuem, o que pode causar tensões entre trabalhadores com diferentes responsabilidades.

3. Risco de redução de contratações

Em períodos de incerteza económica, alguns empregadores podem adiar contratações ou recorrer a contratos mais curtos.

4. Competitividade internacional

Portugal compete com países de mão de obra mais barata. Se o custo do trabalho subir mais rápido do que a produtividade, a competitividade externa pode ser afetada.

O equilíbrio entre justiça social e sustentabilidade

O desafio está em encontrar o ponto de equilíbrio entre garantir rendimentos dignos e manter a viabilidade económica das empresas.
Para que o aumento do salário mínimo seja sustentável, deve ser acompanhado de:

  • Políticas fiscais que aliviem os encargos das PME;

  • Incentivos à produtividade e à inovação;

  • Investimento em formação e qualificação dos trabalhadores;

  • Revisão da carga fiscal sobre o trabalho.

Assim, o aumento salarial deixa de ser apenas um custo e passa a ser um motor de crescimento económico sustentável.

Perspetivas futuras

Com o objetivo de atingir 900€ até 2026, o Governo português pretende alinhar o salário mínimo com o custo de vida crescente e com as médias da União Europeia.
Contudo, este avanço só será verdadeiramente benéfico se vier acompanhado de:

  • Aumento real da produtividade;

  • Maior eficiência do Estado e apoio às empresas;

  • Educação financeira e valorização do trabalho qualificado.

💬 Um salário mínimo mais alto é importante, mas o verdadeiro progresso económico acontece quando o país cria oportunidades para que mais pessoas ganhem acima dele.

Conclusão

A evolução do salário mínimo em Portugal reflete uma história de progresso social, mas também um desafio económico permanente.
Os próximos anos serão decisivos para avaliar se o país consegue conciliar crescimento salarial com competitividade e produtividade.

Enquanto isso, para os trabalhadores, o aumento do salário mínimo é um alívio importante num contexto de inflação e custos de vida elevados — um passo em direção a uma economia mais justa e equilibrada.