Mais Construção, Casas Mais Caras: O Paradoxo da Habitação em Portugal
A crise da habitação em Portugal é um tema que nos tira o sono a muitos. A lógica económica mais básica sugere que, se há mais oferta de casas, os preços deveriam estabilizar ou até descer. No entanto, um novo estudo, citado pelo Público com dados do INE, revela um cenário surpreendente e contraintuitivo: entre 2019 e 2024, o número de casas novas em Portugal quase duplicou (cresceu 95%), mas os preços da habitação continuaram a disparar. Na "Linha Base", vamos desvendar este paradoxo e perceber porque é que mais construção não está a resolver o problema dos preços, e o que isto significa para quem procura casa em Portugal.
IMOBILIÁRIOATUALIDADE
10/28/2025
O Paradoxo Explicado: Onde Está a Lógica da Oferta e Procura?
A teoria económica ensina-nos que, quando a oferta de um bem aumenta e a procura se mantém, o preço tende a baixar. Mas no mercado imobiliário português, parece que esta regra não se aplica. O estudo mostra que as regiões com maior dinamismo na construção foram precisamente as que registaram as maiores subidas de preços:
Madeira: Aumento de mais de 200% no número de novos fogos, com os preços a disparar 97%.
Área Metropolitana do Porto e Oeste: Crescimento semelhante na construção, com valorizações acima dos 70%.
Isto leva-nos a questionar: se estamos a construir mais, porque é que as casas continuam a ficar mais caras?
A Resposta dos Especialistas: Investimento Financeiro e Especulativo
Economistas e urbanistas apontam para um fator crucial: o aumento da oferta não está a responder à procura real de habitação por parte das famílias portuguesas, mas sim ao investimento financeiro e especulativo.
O que isto significa é que muitas das novas casas construídas, ou mesmo as existentes que são transacionadas, não estão a ser compradas por quem precisa de um teto para viver, mas sim por:
Investidores: Que veem o imobiliário como um ativo seguro e rentável, comprando para arrendar (muitas vezes para turismo de curta duração) ou para revender mais tarde com lucro.
Fundos de Investimento: Que adquirem grandes volumes de imóveis.
Compradores Estrangeiros: Que procuram residência ou investimento em Portugal, muitas vezes com maior poder de compra.
Este tipo de procura não é sensível aos preços da mesma forma que a procura de uma família que precisa de uma casa para viver. Para um investidor, um preço mais alto pode até ser um sinal de um mercado "quente" e lucrativo.
Mais de Seis Milhões de Casas para 4,1 Milhões de Agregados: O Outro Lado do Paradoxo
O artigo também refere um dado chocante: Portugal tem atualmente mais de seis milhões de casas para 4,1 milhões de agregados familiares. Isto significa que, em teoria, há casas suficientes para todos. No entanto, continuamos entre os países da OCDE com maior sobrevalorização imobiliária.
Este cenário aponta para um problema de distribuição e utilização da habitação existente:
Casas Vazias/Devolutas: Muitas casas estão desocupadas, seja por estarem em mau estado, por serem segundas residências pouco utilizadas, ou por estarem à espera de valorização para venda.
Desadequação da Oferta: As casas que estão a ser construídas podem não corresponder às necessidades das famílias portuguesas (por exemplo, tipologias grandes e caras, em vez de habitação mais acessível).
Concentração Geográfica: A oferta pode estar concentrada em zonas onde a procura especulativa é maior, enquanto noutras regiões há carência.
O Que Significa Para Si e Como Navegar Neste Mercado?
Este estudo é um alerta importante: a solução para a crise da habitação não passa apenas por "construir mais". É preciso construir o tipo certo de casas, nos locais certos, e com políticas que desencorajem a especulação e incentivem a colocação de imóveis no mercado para habitação permanente.
Para quem procura casa, este cenário exige ainda mais estratégia e literacia financeira:
Seja Realista com as Suas Expectativas: Entenda que o mercado está distorcido por fatores que vão além da oferta e procura tradicional.
Explore Todas as Opções: Não se limite a imóveis novos. Considere a reabilitação de casas mais antigas, que podem ter um custo de aquisição mais baixo, embora exijam investimento posterior.
Avalie o Arrendamento: Em alguns casos, arrendar pode ser uma opção mais sensata e financeiramente sustentável do que comprar a qualquer custo num mercado sobrevalorizado.
Planeamento Financeiro Robusto: Se o seu objetivo é comprar, poupe o máximo possível para a entrada e para os custos adicionais. Esteja preparado para um processo longo e desafiador.
Atenção às Políticas Públicas: Mantenha-se informado sobre as medidas governamentais e autárquicas para a habitação. Podem surgir apoios ou regulamentações que alterem o cenário.
O mercado imobiliário português é complexo e desafiador. Compreender as forças que o moldam, incluindo o papel do investimento especulativo, é crucial para tomar decisões financeiras informadas e proteger o seu futuro habitacional.
Aviso Legal: Este artigo tem um caráter meramente informativo e educacional. Não constitui aconselhamento financeiro, recomendação de investimento ou qualquer tipo de decisão financeira. O objetivo é fornecer conhecimento para que o leitor possa tomar as suas próprias decisões de forma mais informada e consciente. Consulte sempre um profissional qualificado antes de tomar qualquer decisão financeira importante.
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